sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Saudades de Cabuçu

Por Tainan Guimarães

Jovem repórter entrou na euforia de Cabuçu e prometeu levar algo de comer para a Vila Olímpica

Apesar do nervosismo, a galera do Pro Jovem deu um "show" nas apresentações do projeto "Minha rua tem história". Senti-me uma privilegiada porque pude registrar e acompanhar de pertinho todo o processo, da concentração à apresentação, passando pelo ensaio mais ao canto.

Quando se apresentaram, tudo correu conforme o combinado. Como sempre, houve uns errinhos daqui, outros dali. Mas nada que não pudesse ser contornado. Para alguns, ficou a esperança de ganhar o prêmio em reconhecimento a tanto esforço e dedicação. Mas havia também aqueles que traziam um sorriso estampado no rosto, no qual se podia ler um "valeu a pena estar aqui".

Muitos não sabiam que seria a última vez que estariam na oficina. Outros aguardam o domingo para fazer a despedida definitiva, para a qual mais uma vez pretendem levar bolo, salgado e refrigerantes. Contagiada pelo clima festivo, assumi o compromisso de levar levar algo apetitoso para ajudar na confraternização da culminância do projeto.

O domingo promete ser cheio de surpresas e emoções! Uma coisa posso garantir: essa galera vai deixar saudades. Pelo menos em mim.
Nova Iguaçu, 23 de setembro de 2008.

Tainan Guimarães

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Marcha, Cabuçu
Por Juliana Portella

Felipe Canabarro é um rapaz cheio de sonhos – um desses é viver nos palcos do teatro. Por um lado, ainda é um menino, que carrega consigo lembranças de uma infância de fato vivida e nunca esquecida. Mas, quando o assunto é discriminação, as sobrancelhas franzidas fazem dele um homem sério. Felipe, protagonista desse espetáculo chamado vida, está tendo uma atuação brilhante nesse palco chamado Cabuçu. Até então desconhecido do resto do mundo, ele quer aproveitar os embalos do “Minha rua tem história” para deixar ainda mais famoso o bairro no qual nasceu e se criou. Determinação é o que não vai faltar.

Nome Felipe Henrique Canabarro >> Idade 18 anos

Rua Juá >> Estado civil Solteiro


Orkut http://www.orkut.com.br/Main#Home.aspx?client=firefox-a&rls=org.mozilla:pt-BR:official&hl=pt-BR&tab=w0

O que você gosta de fazer?
Teatro. Fiz durante um ano e acho fantástico.

Entrou no Pro Jovem com que objetivo?
Busco melhor capacitação profissional. Mas gostaria muito de fazer algo ligado à arte e de preferência, teatro, a minha paixão.

O que há de bom no bairro?
De uns tempos pra cá o bairro vem melhorando muito. As obras do PAC estão dando uma nova cara a Cabuçu. E essas são o que há de melhor por aqui.

O que há de ruim no bairro?
O pior dos males é a discriminação.

O que gosta de fazer?
Teatro, é claro!

Acha que vai ganhar o prêmio?
Sim, acho que eu ganho sim.

Minha rua tem história por quê...
Quando éramos crianças, eu e minhas irmãs aprontávamos muito. Meu pai, o Sr. Gustavo Raimundo, professor de jiu-jitsu sempre foi muito rígido, não tolerava nenhuma brincadeira. Se não andasse na linha com ele era surra na certa. Pois bem, certo dia minha mãe estava de cama, muito doente. Ela pediu para que meu pai tomasse conta da gente, pois não estava em condição para olhar 3 crianças que tanto aprontavam com toda a vizinhança. Foi então que nós, eu e minhas duas irmãs, decidimos fugir de casa.

Não agüentávamos mais as broncas do papai. Estávamos decididos. O destino? A serra do Vulcão. Moraríamos lá pelo resto de nossas vidas. Juntos com os animais, pescaríamos e plantaríamos tudo para nossa subsistência.
Foi então que caminhamos um pouco até a serra. Chegamos até a subir um pouco, mas ficamos com muito medo. Minha irmã mais velha começou a chorar... Foi então que decidimos voltar para casa. Quando voltamos era bem tarde, já havia escurecido. Eu falei: - Papai vai nos matar!

E eu estava era certo! Lá estava ele, esperando-nos no portão com sua correia! Acreditem se quiser, além da surra fomos obrigados a cantar “ marcha soldado”, em reverência a ele. Foi o maior mico da minha vida, sem dúvidas.

Hoje os vizinhos mais antigos da rua ainda lembram desse episódio engraçado ( só para eles), pois para mim e minhas irmãs foi muito vergonhoso.
Pro mãe
Por Juliana Portella

Entrevista com a mãe Fabiana Mota dos Santos, que não falta nenhuma aula do ProJovem e sempre leva Jéssica, sua filha de apenas 3 anos.

Nome Fabiana Mota dos Santos >> Idade 23 anos

Estado civil Casada >> Time Flamengo

Entrou no Pro Jovem com que objetivo?
Eu gostaria muito de fazer algum curso de culinária

O que há de bom no bairro?
A vizinhança e a praça.

O que gosta de fazer?
Cozinhar


O que há de ruim no bairro?

Violência e falta de asfalto

Acha que vai ganhar o prêmio?
Tomara que eu ganhe, né?

O que pretende fazer com o prêmio?
Se for uma câmera digital, eu vou registrar todos os momentos da minha filha na escola.

Fabiana Sugere...
Como melhorar meu bairro usando um MP4...

“Nossa comunidade precisa de um programa que acolha as jovens mães como eu. Que necessitam trabalhar e/ou estudar e não têm com quem deixar os seus filhos. Eu sugiro que entrevistemos essas mães e com o resultado das entrevistas apresentar um projeto aos órgãos responsáveis para quem sabe um dia termos uma creche para deixarmos nossos filhos.”

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

De Cabuçu para a história

Um índio, Itaquatiringa e a tabatinga
De Fernanda Bastos da Silva

Conta a lenda que, desde os primórdios da colonização brasileira, as terras que hoje comportam o bairro de Cabuçu eram povoadas pelo índios Tupinambás. Eles cultivavam mandioca e viviam às margens dos rios Cabuçu e Ipiranga, entre outros. Dizem que eles utilizavam as folhas de uma árvore milenar para colocar seus pés quando saiam de casa para visitar outras tribos pois, naquela época, a tecnologia ainda era precária e eles tinham que conviver com a tabatinga e a lama nas ruas, em função das terras baixas e alagadiças que constituíam os brejais que dominavam a morfologia da paisagem.

Os índios deram nome a vários lugares de Cabuçu, inclusive o próprio nome “Cabuçu” é de origem Tupi e significa “Abelha Grande”. Dos índios também vieram os nomes das ruas Itororó e Taquaretinga. O que muita gente não sabe é que um certo índio tupinambá nomeou a árvore milenar utilizada por várias gerações de “boça pá istica”.

Após um tempo vieram os colonizadores e a região de Cabuçu tornou-se um importante ponto de produção de cana-de-açúcar, com destaque para os engenhos Marapicú, Ipiranga, Cabuçu e Mato Grosso. O escoamento desses produtos era feito por rota fluvial ou por meios dos caminhos como o caminho do mato grosso, a antiga estrada de Queimados e Cabuçu (em frente à fazenda Cabuçu) e a rua Taquaritinga ligava o Aliança a Cabuçu.

Histórias orais contam que do alto dos montes dava para ver a poeira subindo no horizonte da Baixada, conforme passavam os tropeiros com seus muares, chegavam a fazer desenhos no ar. O caminho de Queimados, que era um pouso de parada para tropeiros, passou a ser a última parada antes dos tropeiros subirem a Serra do Mar, rumo a Minas Gerais. Dizem que quando chovia os cavalos não conseguiam transitar em meio à lama, com suas ferraduras, tendo que colocar, os tropeiros, sacos de couro nas patas dos animais para a longa caminhada.

E a cana chegou à sua fase de declínio e o café foi introduzido nas fazendas. Mas o café não vingou nas terras da Baixada e, com isso, em Cabuçu. O que ficou foram as tecnologias introduzidas para o escoamento dele, pois Cabuçu fica no caminho entre dois portos importantes, o do Rio de Janeiro e o de Itaguaí. Construíram-se em meados do séc. XIX, as ferrovias, entre elas a de Santa Cruz e Dom Pedro II (hoje chamada Central do Brasil). O que não se fala muito é que havia um ramal que liga essas duas ferrovias e que esse ramal passava em Cabuçu. (hoje chamada Linha Velha). Suas locomotivas a vapor eram abastecidas pelas caixas d’água instaladas ao longo dos trilhos, como a que fica nas margens da lagoa azul. Interessante é que essa ferrovia cortava brejos e, conforme os médicos sanitaristas, ela, ao represar as águas, provocou a disseminação de doenças provenientes das águas paradas. Com a ferrovia, porém, Cabuçu perdeu a importância política. (Marapicu tinha status político e econômico) para o pouso dos Queimados em função da ferrovia principal passar lá.

Em 1891 Nova Iguaçu se torna cidade e Cabuçu passa a constituir o distrito de Queimados. Entre o final do séc. XIX e até a 2ª Guerra Mundial, Nova Iguaçu exibiu a fama de ser a “cidade perfume” em função de seus vários laranjais para a comercialização com o exterior. Em Cabuçu não foi diferente. Em meio a brejos e laranjais, os moradores conviviam com suas ruas de terra e seus caminhos tortuosos buscando terrenos mais firmes. Para facilitar o escoamento, foi construída na dec. de 40 (1940), a Estrada de Madureira, conhecida por suas muitas curvas para fugir dos brejais de Cabuçu.

Findado o apogeu dos cítricos, “o ouro laranja”, Nova Iguaçu conheceu um novo momento, seu papel industrial, que passou a exercer por estar às margens de uma das principais rodovias do país: a Dutra. Para alocar os “novos iguaçuanos”, os migrantes que vieram trabalhar nas fábricas da cidade do Rio de Janeiro e de Nova Iguaçu, muitas chácaras laranjeiras foram retalhadas em loteamentos, entre eles o Jardim Cabuçu, cuja imobiliária era a Granja Paraíso, na década de 50.

As máquinas vinham abrindo ruas em meio às várzeas e as rodas eram esteiras que se saiam melhor nas ruas com lama.

Entre as ruas principais, lá estavam: a rua Severino Pereira da Silva, Itororó e Itaquaritinga. Até a dec. de 90 nada havia no final da rua Itaquaritinga a não ser mato e lama.

Há 12 anos, nada havia no loteamento 12 de outubro, criado recentemente. Com 6 anos de idade, eu acordei e estava no 12 há 12 anos. Em frente a minha casa: mato, à esquerda e à direita: mato, aos fundos um sítio muito antigo e a rua em frente, continuação da Itaquaritinga: terra firme e com ela, lama. Isso há doze anos.
Hoje, ao acordar em uma manhã chuvosa de verão, sinto o cheiro agradável da terra molhada e, talvez am função de uma possível descendência dos povos tupinambás que, infelizmente, já não existem mais, sinto nostalgia dessas histórias. Pouco se recordam das tradições dos nossos antepassados, porém, hoje, ao sair para o mercado, farmácia ou igreja, pratico um ritual passado de pais para os filhos, cujo tempo não sei ao certo. Um costume já tradicional dos que vivem nos arredores daquela rua Itaquaritinga, nomeada há tanto tempo. Hoje vivo na sociedade pós-moderna do séc. XXI e uso uma bolsa plástica nos pés para proteger-me da lama da rua Itaquaritinga.

Curioso esse fato. Isso prova que a memória dos povos e culturas locais é importante para conhecermos nossa história e entendermos nossas práticas culturais. O bairro Cabuçu e a rua Taquaritinga talvez não sejam conhecidos pelas empresas que criaram as bolsas plásticas para o transporte de mercadorias, mas, sem dúvida, aquele índio que nomeou a rua Taquaritinga e a folha daquela árvore fazem parte da vida das pessoas que moram nessa rua como eu e minhas gerações anteriores, moradores de Cabuçu.

Minha rua faz parte da história de minha cidade, que faz parte da história da humanidade e eu agora entro para história, escrevendo a minha história e a da minha rua. A minha rua tem história.

A casa torta

Participante de Cabuçu, Gabriela transformou a construção da sua casa numa deliciosa epopéia.
Por Gabriela de Oliveira Goudard


Para sair do aluguel, eu e meu esposo, que se chama André, começamos a construir a nossa casa. Durante a construção, tivemos vários momentos legais e desastrosos.

Para começar a fazer os primeiros cômodos, tivemos que limpar o terreno, porque o terreno tinha muitas cobras e guaxinins. O mato seco era tanto que chegava a subir pelas paredes do vizinho. Então, decidimos colocar fogo no mato.

Percebemos então que o fogo subiu pela parede da vizinha e começou a incendiar o telhado.

Todo o mundo começou a gritar: Fogo! Fogo! Fogo!

E começou a correria com baldes de água até apagarmos o tal fogo.

Tudo acabou bem, mas só metade do terreno ficou limpo.

Depois começamos a cavar para as sapatas da casa. Cavamos e fomos almoçar. O pedreiro tropeçou e caiu de cabeça na sapata, porque se assustou com uma cobra que estava perto da marmita dele. Foi engraçado porque ele ficou tremendo igual a uma perereca gelada, sem contar com o “gritinho de bicha” que ele deu.

Passando um tempo, começamos a levantar as paredes da cozinha e do banheiro. Como não havíamos aterrado, o pedreiro colocou o basculante do lado errado. Tivemos que quebrar a parede e levantar o basculante, pois quem passava na rua via tudo dentro do banheiro.

Esse mesmo pedreiro era tão ruim que as paredes da minha casa são toda tortas. Se tiver uma só parede certa, na reta, é muito.

O encanamento do esgoto foi feito com tubo de 100. Alguém aqui de casa conseguiu entupir o vaso sanitário. O que essa pessoa deve ter comido? Concreto ou o quê? Deve ter perdido as pregas do fiofó ou ficou com hemorróidas. Até hoje não conseguimos descobrir quem foi.

Depois do banheiro e da cozinha ficar pronta, fomos morar nesses dois cômodos. Eu, minha filha Ysabela, meu esposo André e os dois filhos dele. Aos poucos começamos a construir a sala. Porque ficar só na cozinha não dava para fazer nada. Nem namorar.

Meu esposo começou a comprar materiais e fomos subindo as paredes aos poucos. Todas as noites eu e meu esposo íamos para a sala quase pronta porque as crianças não deixavam a gente namorar. O único lugar que tinha era lá e também porque era escuro.

Só que o cachorro da vizinha ouvia a gente entrando e danava a latir, acordando as crianças, cortando o barato, fazendo a gente entrar.

Depois de meses a sala estava quase pronta. Faltavam só as telhas, caibros, e pernas de três. Foi difícil colocar as telhas. Eram muito pesadas, mas criamos força, coragem e sacrifício.

Quando terminamos de colocar as telhas, o caibro se soltou e as telhas caíram em cima de mim. Levei alguns pontos no braço, mas tudo bem. Recolocamos as telhas e ficou tudo certo.

Agora estamos tentando construir os dois quartos. As paredes continuam tortas, mas estão subindo. Estamos lutando para conseguir comprar materiais de construção.

Não temos pedreiro. Nós mesmos estamos colocando a mão na massa.

Tá torto, mas tá bom!

O Rap de Cabuçu

Por Tatiana dos Santos Conceição


Rap produzido por uma das turmas de Cabuçu para o evento da Vila Olímpica.


Minha árvore tem história

Cabuçu moramos lá

Comunidade vem em massa

Cabuçu representar

Tem mais ruas

Tem escolas e muitas árvores no lugar

Lá no bairro onde eu moro uma lenda vou contar

As pessoas que olhavam suas raízes no lugar

Mas quando a noite chegava o terror vinha espalhar

Para que tivesse perto, de noitinha, no lugar

Essa árvore danada que saía do lugar

Quando o dia raiava ela tinha de parar

Se é pra falar de árvore eu também vou lhe contar

de uma árvore que chorava todo dia no lugar

Tem saudade, tem namoro, tem de tudo no lugar

Muita lenda. Muita história outro dia vou contar

Comunidade vem em massa pra poder representar


Refrão:

Pro Jovem... Minha rua tem história.

Pro Jovem... Minha árvore também.

Pro Jovem... hou, hou!

Pro Jovem... é pro, é pro, é Pro Jovem

Pro Jovem... pro Jooovem

Pro Jovem




Obras intermináveis

Por Cláudio de Souza

Allan Barreiros não gosta do valão e dos estragos que a chuva deixa na sua rua. Mas ele tem a mesma paciência da mãe, que não pára de fazer obras em casa. Ele tem esperança de que as obras do PAC um dia o beneficiem também.

Nome Allan Nunes Barreiros >> Idade 18 anos


Rua Imperador Marco Antônio


E-mail allankn@ oi.com.br


Ocupação Trabalha com manutenção de antena


Religião Evangélico >> Time Flamengo


O que mais gosta de fazer?

Praticar esportes e navegar na internet


O que não gosta de fazer?

Acordar tarde


O que tem de bom na sua rua?

Futebol, bate-papo entre amigos, subir em árvores, escalar


O que tem de ruim na sua rua?

Quando chove, fica igual a um rio e tem valão aberto.


Por que veio para o Pro Jovem?

Vim para o Projovem para fazer um curso, ter experiência e conseguir um emprego


O que você espera do projeto?

Espero do projeto que as pessoas possam sair formadas, satisfeitas e com um emprego


O que você achou do encontro na Vila Olímpica?

Gostei de sábado porque pudemos fazer amizades com pessoas de outros lugares


Acha que vai ganhar?

Pretendo ganhar algum prêmio


Minha rua tem história por quê...

Contei a história da luta de minha mãe com os reparos na nossa casa, que não terminam nunca.