quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A casa torta

Participante de Cabuçu, Gabriela transformou a construção da sua casa numa deliciosa epopéia.
Por Gabriela de Oliveira Goudard


Para sair do aluguel, eu e meu esposo, que se chama André, começamos a construir a nossa casa. Durante a construção, tivemos vários momentos legais e desastrosos.

Para começar a fazer os primeiros cômodos, tivemos que limpar o terreno, porque o terreno tinha muitas cobras e guaxinins. O mato seco era tanto que chegava a subir pelas paredes do vizinho. Então, decidimos colocar fogo no mato.

Percebemos então que o fogo subiu pela parede da vizinha e começou a incendiar o telhado.

Todo o mundo começou a gritar: Fogo! Fogo! Fogo!

E começou a correria com baldes de água até apagarmos o tal fogo.

Tudo acabou bem, mas só metade do terreno ficou limpo.

Depois começamos a cavar para as sapatas da casa. Cavamos e fomos almoçar. O pedreiro tropeçou e caiu de cabeça na sapata, porque se assustou com uma cobra que estava perto da marmita dele. Foi engraçado porque ele ficou tremendo igual a uma perereca gelada, sem contar com o “gritinho de bicha” que ele deu.

Passando um tempo, começamos a levantar as paredes da cozinha e do banheiro. Como não havíamos aterrado, o pedreiro colocou o basculante do lado errado. Tivemos que quebrar a parede e levantar o basculante, pois quem passava na rua via tudo dentro do banheiro.

Esse mesmo pedreiro era tão ruim que as paredes da minha casa são toda tortas. Se tiver uma só parede certa, na reta, é muito.

O encanamento do esgoto foi feito com tubo de 100. Alguém aqui de casa conseguiu entupir o vaso sanitário. O que essa pessoa deve ter comido? Concreto ou o quê? Deve ter perdido as pregas do fiofó ou ficou com hemorróidas. Até hoje não conseguimos descobrir quem foi.

Depois do banheiro e da cozinha ficar pronta, fomos morar nesses dois cômodos. Eu, minha filha Ysabela, meu esposo André e os dois filhos dele. Aos poucos começamos a construir a sala. Porque ficar só na cozinha não dava para fazer nada. Nem namorar.

Meu esposo começou a comprar materiais e fomos subindo as paredes aos poucos. Todas as noites eu e meu esposo íamos para a sala quase pronta porque as crianças não deixavam a gente namorar. O único lugar que tinha era lá e também porque era escuro.

Só que o cachorro da vizinha ouvia a gente entrando e danava a latir, acordando as crianças, cortando o barato, fazendo a gente entrar.

Depois de meses a sala estava quase pronta. Faltavam só as telhas, caibros, e pernas de três. Foi difícil colocar as telhas. Eram muito pesadas, mas criamos força, coragem e sacrifício.

Quando terminamos de colocar as telhas, o caibro se soltou e as telhas caíram em cima de mim. Levei alguns pontos no braço, mas tudo bem. Recolocamos as telhas e ficou tudo certo.

Agora estamos tentando construir os dois quartos. As paredes continuam tortas, mas estão subindo. Estamos lutando para conseguir comprar materiais de construção.

Não temos pedreiro. Nós mesmos estamos colocando a mão na massa.

Tá torto, mas tá bom!

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