segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Obra de igreja
Por Juliana Portella

Daiane Câmara gosta dos vizinhos da Rua Minas Gerais, onde mora com os pais em uma casa cuja obra lembra as da igreja que ela vai todos os domingos. "Não acaba nunca", diz ela, sem perder o humor.

Nome Daiana Silva Câmara >> Idade 22 anos

Rua Minas Gerais >> Bairro Cabuçu

Time Flamengo >> Religião Evangélica


Quem sou eu?

Uma serva do Senhor, que gosto muito de ir à igreja.

Por que entrou no Pro Jovem?
Busco qualificação profissional

O que você gosta no seu bairro?
Os vizinhos

O que você não gosta no seu bairro?
Falta de saneamento básico

Acha que vai ganhar o prêmio?
Sim. Estou fazendo o possível para isso.

O que faz aos domingos?
Vou à igreja

Minha rua tem história por quê?
Deus me deu o livramento quando pensei em sair da cozinha na hora que o telhado cairia emcima de mim. Hoje estou viva e numa casa bem melhor.

Na Rua Euchario, vivia a família de Daiana Câmara. Ela nos conta que morava com o pai, a mãe e três irmãos.

A casa só tinha um quarto. A mãe colocava um guarda-roupas no centro para dividi-lo. De um lado, ficava a sala e, do outro, o banheiro e a cozinha. Sua casa era de telha e, quando chovia, o pai tinha que amarrar uma panela no caibro para não inundar a casa.

Como se não bastasse a falta de conforto, a casa era muito vulnerável. Certa vez, o vento quebrou o telhado e seu pai teve que colocar um pedaço de vidro. Ela achou estranha a solução improvisada pelo pai, mais aceitou com poesia a sua resposta. “É para que você olhe as estrelas quando estiver sem sono”, disse ele.

Mal sabia ele que Daiana conciliava o sono com uma outra imagem. “Eu sonhava com um quarto rosa, com uma ama para ela e para a irmã.” Porém, não o contou para o pai.

Cinco anos depois, o pai conseguiu um emprego fixo e pôde dar início à construção do quarto com que ela e suas irmãs tanto sonhavam. Era um quarto de telhas pequeno e simples, mas tudo que as meninas queriam.

A alegria de ter um quarto durou pouco.

Certo dia, estava ventando muito, e até fazia um pouco de frio. Daiana foi até a cozinha fazer pipoca. Enquanto a panela estava no fogo, Daiana jura ter sentido algo estranho, pedindo pra que ela saísse da cozinha. A menina não pensou duas vezes antes de apagar o fogo e correr para a sala. Minutos depois, as telhas da cozinha começaram a desabar.

A menina correu para o colo de sua mãe e ouviu outro estrondo. A família esperou a tempestade passar para se certificar de que, além de uma telha da cozinha ter despencado, havia um buraco no teto do quarto das meninas. “Nunca mais esqueci aquele dia”, lembrou Daiana com tristeza.

A ventania não deixou apenas susto e prejuízo material em seu rastro. Daiane lembra também do exemplo de solidariedade dos vizinhos. “Eles ajudaram a gente a reconstruir a casa”, lembrou ela.

Hoje, Daiana não mora mais naquela casa. Seu pai comprou o terreno na Rua Minas Gerais no qual, com muita dificuldade, construiu a casa onde hoje a família mora. “Mas a obra ainda não acabou”, ponderou.

Mas isso não faz com que a família perca o humor. “Obra de pobre é que nem obra de igreja”, disse ela. “Nunca termina.”

Um comentário:

Felipe Fox disse...

Muito bom!
Quero dar os parabéns, e dizer que suas matérias estão maravilhosas!